Quem ronca geralmente não sabe o risco que está correndo. Não se trata apenas de quebrar o silêncio da noite e perturbar aqueles que compartilham do mesmo espaço. Roncar é sintoma de problemas que muito provavelmente vão causar disfunção erétil.
O homem que ronca tem três vezes mais chances de falhar na hora do sexo. E esse risco aumenta para quatro vezes após os 50 anos. Isso acontece porque o sono do roncador é prejudicado e, sem completar os ciclos necessários de descanso, o organismo sofre alterações metabólicas perigosas.
O foco das atenções está sempre no ronco devido ao desconforto sonoro que ele causa. Mas o grande vilão da história é outro. Roncar é sintoma de apneia do sono, doença na qual a respiração chega a ser interrompida por alguns segundo.
“Essa interrupção torna o sono fragmentado e mais superficial”, explica Geraldo Rizzo, neurologista e especialista em sono do Hospital Moinhos de Vento. Ele esclarece que tal fragmentação impede o homem de atingir os estágios mais profundos do descanso, os quais são necessário para a produção de testosterona, hormônio do crescimento e óxido nítrico
Principal hormônio masculino, a testosterona está diretamente ligada à libido e à vitalidade do homem. Quando há queda na produção dela, a pessoa passa a ter menos desejo sexual. “Já o óxido nítrico é um neurotransmissor responsável pela ereção. Ele mantém a irrigação dos corpos cavernosos (anatomia interna do pênis)”, afirma o dentista Fausto Ito, membro da Associação Brasileira do Sono.
O hormônio do crescimento não tem uma ligação tão forte com o desempenho sexual, mas há uma relação indireta. Quando o homem sofre uma redução na produção deste hormônio, ele se torna mais cansado e mais vulnerável a doenças. Isso pode interferir em sua vida sexual e até mesmo em sua aparência.
E a barriga de chope?
A gordura visceral, também chamada de barriga de chope, agrava toda a situação. Ela intensifica de algumas formas a relação entre apneia do sono e disfunção erétil. O próprio peso da barriga já é um problema. “Ele pode comprometer o movimento respiratório”, alerta Rizzo.
Isso acontece porque a gordura abdominal se concentra na mesma região do diafragma, músculo que está logo abaixo das costelas. Ele é responsável por viabilizar os movimentos da respiração e, quando há muito peso em cima, a força para tal movimento precisa ser maior.
Além do peso, a barriga de chope traz consigo outro problema: o chope. O consumo regular de qualquer bebida alcoólica interfere no sistema nervoso central e causa relaxamento muscular por todo o corpo. “Isso faz a pessoa roncar mais e mais alto. Também aumenta a quantidade e o tempo de apneia”, afirma Fauto Ito. Assim, o homem terá mais interrupções e interrupções mais longas da respiração durante sono, o que vai aumentar a chance de impotência.
Não bastasse tudo isso, a barriga de chope é sinal também de que o homem está acima do peso e provavelmente acumula gordura na região do pescoço. Isso prejudica a passagem do ar durante o sono e pode causar ou agravar a apneia.
Ainda pode piorar
Ter disfunção erétil não é a única consequência grave da combinação ronco e barriga de chope, há risco de variações na pressão arterial perigosas para quem sofre de hipertensão ou tem problemas cardíacos. “Quando a respiração do apneico é interrompida, o coração bate lentamente e a pressão arterial diminui. Mas quando o homem volta a respirar, acontece um pico de pressão arterial”, alerta Luciano Ribeiro, neurologista do Instituto do Sono.
Há também risco aumentado para diabetes, infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e para todas as doenças da síndrome metabólica. “Dormir mal aumenta a produção de grelina e reduz a de leptina”, aponta Fausto Ito. A leptina é um hormônio ligado a saciedade, enquanto a grelina está ligada ao apetite. “A pessoa terá menos saciedade e mais vontade de comer, especialmente alimentos mais gordurosos”, afirma.
O combate ao problema requer estratégias individualizadas. “É preciso identificar a causa da apneia”, aponta Ito.
A respiração pode ser interrompida por outros fatores anatômicos, como mandíbula inferior muito retraída, língua grande ou palato muito baixo. Estresse, ansiedade, consumo elevado de café ou energéticos, ingestão de bebidas alcoólicas, tudo pode contribuir para a combinação de problemas.
“Uma avaliação clínica ajuda a identificá-los e depois traçamos uma estratégia para melhorar a higiene do sono, para que o homem consiga dormir bem e com tranqüilidade”, explica o dentista.