Descobrimento da América
O descobrimento da América aconteceu com a chegada dos espanhóis no continente, em 12 de outubro de 1492, durante a expedição de Cristóvão Colombo. Existe um debate entre os historiadores a respeito da utilização do termo “descobrimento”, de toda forma, depois que os espanhóis chegaram à América, iniciou-se o processo de colonização do território encontrado.
A chegada dos espanhóis à América está relacionada com as grandes navegações e com a busca dos europeus pelo alcance do mercado das Índias a fim de comprar as preciosas especiarias, produtos valiosíssimos na Europa. Do lado dos povos indígenas, a chegada dos europeus significou tragédia, pois, em poucas décadas, milhões deles morreram.
Exploração do Oceano
O mundo, na visão europeia do século XV, era pequeno e resumia-se à Europa, a partes do continente asiático e ao norte da África. Essa concepção modificou-se à medida que o Oceano Atlântico foi sendo explorado ao longo desse século. A exploração atlântica ficou conhecida como grandes navegações.
Por meio dessas navegações, avanços significativos aconteceram. Primeiramente, foi desenvolvida uma embarcação propícia para a navegação marítima (a caravela), além de que novas técnicas foram utilizadas no auxílio a essa atividade. O resultado foi que novos locais começaram a ser alcançados, e os mistérios do oceano, em parte, desvendados.
No entanto, essa exploração oceânica, não tinha como propósito a exploração em si ou a busca pela ampliação do conhecimento geográfico. Ela tinha um objetivo mais pragmático: a procura por lucro. O fechamento das rotas orientais que passavam por Constantinopla levou os europeus a investirem em meios para alcançar-se o Oriente por outro caminho.
Além disso, havia uma falta severa de metais preciosos em alguns locais da Europa, como Portugal. Assim, explorar o oceano à procura de locais para obter-se essa riqueza foi outro fator de grande peso. Por último, a expansão da fé cristã, por outros locais do mundo, também era um motivador importante para as grandes navegações.
Esses fatores levaram os portugueses à exploração do Oceano Atlântico, tendo-se a conquista de Ceuta, em 1419, como ponto de partida. O pioneirismo de Portugal explica-se porque o país reuniu as condições necessárias que o permitiram lançar-se nesse empreendimento. A Espanha, por sua vez, não tinha condições políticas e nem territoriais para isso, e participou dessa empreitada tardiamente.
Foi somente depois que a Espanha consolidou-se durante o reinado dos reis católicos (Isabel de Castela e Fernando de Aragão) e que os mouros foram expulsos da Península Ibérica, em 1492, que os espanhóis resolveram investir na navegação marítima. Para isso, contaram com um genovês que, havia anos, solicitava financiamento para uma viagem arriscada.
Cristóvão Colombo
O navegante Cristóvão Colombo, nascido em Gênova, em 1451, procurava financiadores para a sua expedição desde o começo da década de 1480. Por meio de suas leituras, Colombo tornou-se um defensor da ideia da esfericidade da Terra. Assim sendo, ele sabia que seria possível alcançar a Ásia navegando pelo oeste.
Colombo e seus planos de viagem haviam sido rejeitados pelos reis de Portugal e Inglaterra. Ele tinha também mantido contatos com a Coroa francesa, os quais não avançaram. Ele ainda procurou os reis espanhóis para que o financiassem, mas, por conta da guerra contra os mouros, recebeu uma resposta negativa. Foi só em 1492, depois que os mouros foram derrotados, que os reis espanhóis foram convencidos de financiarem sua expedição.
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Expedição de Colombo
A ratificação do acordo entre Colombo e Espanha aconteceu em 17 de abril de 1492, por meio da assinatura das Capitulações de Santa Fé, o contrato existente entre as duas partes. Colombo recebeu as promessas de ganho que requeriu e dinheiro para montar três embarcações, as caravelas Niña e Pinta e a nau Santa María.
O objetivo da expedição era claro: chegar-se ao continente asiático, primeiro ao Japão (chamado de Cipango na época) e depois à Índia. Colombo esperava fazer essa travessia em um tempo razoavelmente curto e conseguiu convencer seus marinheiros disso. Essa opinião do explorador deu-se por meio de estimativas incorretas feitas por ele sobre o tamanho da Terra e a extensão do Atlântico.
Em 3 de agosto, a expedição de Colombo partiu de Palos de la Frontera na direção das Canárias, e de lá, ela prosseguiu rumo ao oeste. A viagem, como mencionado, extrapolou a estimativas de Colombo, e, por isso, ele mantinha registros falsos sobre as distâncias percorridas. O objetivo disso era manter sua tripulação calma a respeito da demora no achamento de novas terras.
Mesmo utilizando-se dessa tática, Colombo teve problemas com os marinheiros porque a viagem estava sendo longa demais. Era natural esse temor, pois, quanto mais longa a viagem, menores seriam os recursos disponíveis nas três embarcações. Temores à parte, sabemos que, no dia 12 de outubro de 1492, a expedição de Colombo chegou a Guanahani, ilha que faz parte das Bahamas.
Durante o trajeto, havia uma bonificação para aquele que avistasse terra primeiro, e o primeiro a fazê-lo foi o marinheiro Rodrigo de Triana, mas Colombo alegou que havia visto luzes no dia anterior (11 de outubro) e tomou a recompensa para si. Quando chegaram, o que Colombo e os espanhóis avistaram foram pessoas nuas (os nativos), e isso foi muito diferente daquilo que o líder da expedição esperava.
Colombo acreditava ter chegado à Ásia, e a visão de pessoas nuas era algo totalmente diferente do que os relatos medievais e renascentistas sobre os asiáticos afirmavam. Esse foi o primeiro indício para o genovês de que ele não estava na Ásia, mas ele, de algum modo, não o percebeu. Ao desembarcar, ele renomeou a ilha de Guanahani como ilha de San Salvador.
Colombo passou todo resto de sua vida tentando provar que tinha chegado à Ásia e procurou encontrar indícios de tal feito nas quatro viagens que fez ao mesmo destino, mas não obteve sucesso. Nessa primeira viagem, Colombo acreditou ter explorado ilhas da Ásia Oriental e a região do Golfo da Tailândia, mas afirmava que não tinha pisado em continente.
Ainda nessa viagem, Colombo esteve também na ilha que hoje forma o Haiti e a República Dominicana, chamando-a de Hispaniola. Nesse local, ele teve contato com um dos líderes locais, o cacique Guacanagari, que o recebeu pacífica e amistosamente, oferecendo-lhe presentes e ajudando-o quando a embarcação Santa María naufragou.
Já nessa primeira chegada, Colombo demonstrou o seu desprezo pelos nativos, sequestrando alguns deles para levá-los à Espanha e registrando que eles poderiam ser transformados em servos dos espanhóis. Os nativos, inclusive, foram chamados por Colombo de índios, porque ele acreditava estar próximo da Índia.
Na ilha de Hispaniola, Colombo deixou 39 homens e formou o primeiro assentamento espanhol na América: Navidad. Esse assentamento foi construído onde hoje fica o Haiti e com a autorização de Guacanagari. Os habitantes que nele se instalaram foram massacrados depois que começaram a agir cruelmente com os nativos, segundo a antropóloga Josefina Oliva de Coll|1|.
Colonização
Com a chegada dos espanhóis à América, iniciou-se a colonização. Como sabemos, na primeira expedição foram deixados 39 homens em Hispaniola, mas todos foram mortos e o assentamento foi destruído. Na segunda viagem de Colombo, cerca de 1200 homens foram trazidos para iniciar-se a colonização da América, e o assentamento de La Isabela foi criado.
Os conflitos entre nativos e indígenas intensificaram-se nesse momento porque os espanhóis demonstraram grande crueldade sequestrando mulheres de aldeias nativas e cometendo todo o tipo de violência na busca por ouro. A historiadora Marianne Mahn-Lot sugere que a postura dos espanhóis justificou-se pelo fato de que eles não queriam realizar o trabalho duro que a sobrevivência na América exigia. Assim, eles se voltaram contra os nativos, roubando suas mulheres e escravizando os homens|2|.
Após poucas décadas, o resultado nas ilhas do Caribe era desastroso. Os nativos, obrigados a entregarem quantidades em ouro e a trabalharem exaustivamente, começaram a fugir e morrer. Os que fugiam instalavam-se em regiões montanhosas. Outros morriam de exaustão, cometiam suicídio, adoeciam gravemente ou então eram mortos pela violência espanhola. Logo os milhões de habitantes nas ilhas caribenhas tornaram-se milhares.
A América foi descoberta?
O termo “descobrimento da América” é objeto de polêmica antiga entre os historiadores que se debruçam sobre o tema. Ao longo de grande parte do século XX e entrando pelo século XXI, discussões extensas foram realizadas, e a polêmica do assunto não se encerra. De toda forma, cabem algumas reflexões a respeito disso.
Primeiramente, a noção de descobrimento da América desenvolveu-se décadas depois da chegada de Colombo. Ela se popularizou e tornou-se uma das principais interpretações a respeito do assunto. Portanto, podemos ter como ponto de partida o fato de que os espanhóis e o próprio Colombo não encararam o acontecimento como tal.
Entre os historiadores do continente americano, a ideia de descobrimento é considerada eurocêntrica, uma vez que coloca a América em uma perspectiva de que ela só passou a existir quando os europeus chegaram e estabeleceram-se aqui. O contra-argumento a essa noção é de que o continente americano não precisava da presença europeia para existir, pois aqui já tinha populações muito bem estabelecidas, com estilo de vida próprio.
Em geral, a ideia de descobrimento é muito popular, mas os historiadores procuram problematizá-la. Muitos entendem que a chegada dos europeus à América tratou-se de uma invasão, pela qual os europeus realizaram a conquista do território, subjugando os nativos por meio da guerra. Além disso, existe também a ideia de que a América não foi uma descoberta europeia, mas sim uma invenção.
Por fim, como provocação, é muito importante quando fazemos uma reflexão sobre esse assunto. O termo descobrimento faz menção à chegada dos espanhóis em 1492, como um evento inovador, mas não leva em consideração o fato de que eles não foram os primeiros europeus a chegarem aqui. No final do século X, os vikings chegaram à América do Norte, mas, diferentemente dos espanhóis, não se estabeleceram por longo tempo.
Assim, podemos perceber que a ideia de descobrimento não está relacionada à chegada em si, mas ao estabelecimento permanente, à colonização. Portanto, com essa constatação, a ideia de invasão e conquista da América ganha força, pois é a fixação e o início da colonização (e da exploração) que são enxergados como relevantes dentro desse contexto.
Notas
|1| COLL, Josefina Oliva de. A resistência indígena. Porto Alegre: L&PM, 1974, p. 18.
|2| MAHN-LOTT, Marianne. A conquista da América espanhola. Campinas: Papirus, 1990, p. 28.