O capitão e o disco voador
Como sempre fazia desde os tempos do quartel, o capitão acordou ainda de madrugada, colocou o moletom e calçou os tênis. Nada de grife, tudo raiz. Um solicito assessor bateu continência e afastou-se permitindo ao capitão sair para o sereno da madrugada.
Aquela era a sua hora, seu tempo de pensar nas frases que diria durante o dia e que chocariam grande parte da população. Mal sabiam que essa estratégia havia sido aplicada desde antes da vitória; só que após a posse, enquanto a nação discutia suas palavras, sua equipe cuidava de tocar o Brasil sem maiores interferências.
Quase ninguém havia percebido que o capitão dizia coisas que não colocava no papel. Um exemplo simples; enquanto o país discutia sua recomendação para que os brasileiros só evacuassem a cada 48 horas, a equipe avançava na reforma da previdência e mudava-se a estrutura de importantes órgãos da administração, mexendo em pontos sensíveis como o COAF, a Receita Federal e até na Polícia Federal.
Desde que assumira, sua entourage havia remontado os gambitos políticos, numa troca que tirara da vitrine do Senado os antigos e aparentemente eternos cardeais, substituindo-os pelos mais ilustres desconhecidos. Até mesmo o anuncio do nome de seu filho como Embaixador nos Estados Unidos começara como fumaça produzida para que suas ideias de reforma e expurgos na máquina administrativa não fossem notadas. No entanto a nuvem estava se solidificando.
E agora ali, na solidão da madrugada de Brasília, o capitão pensava como poderia avançar no seu maior desejo. Não, nada de novos impostos, tipo essa recriação da CPMF que seu posto Ipiranga anunciara. Para encobrir o assunto negara a existência de queimadas. Sempre que precisava mascarar uma ação forte, apelava para o meio ambiente. Enquanto o povo procurava nos céus os sinais do cataclisma, ele atacava os contribuintes.
Na verdade, o que o capitão estava preparando naquela madrugada era a forma de conduzir sua reeleição. Com as últimas tacadas praticamente anulara o Juiz, que crescia nas pesquisas. Continuando assim só perderia a reeleição se de um disco voador descessem ETs e pedissem para conhecer o líder máximo, sendo conduzidos a Curitiba.
Iria chamar o astronauta que colocara como Ministro para neutralizar essa má influência espacial.