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                                           Que viva a Ancine!  (Damião Ramos Cavalcanti)

                                           Que viva a Ancine! 

          O Fórum Nacional dos Secretários de Estado da Cultura, legítima e veementemente, posiciona-se em defesa da Agência Nacional de Cinema – Ancine, unindo forças que mantêm viva e fazem o crescimento da sétima arte, no momento em que o mundo do cinema, no nosso país, sofre graves ameaças, sob o pretexto de um falso e farisaico moralismo e do retorno à arbitrariedade da censura. A História do Cinema corrobora esse fenômeno: sem liberdade, a arte não sobrevive; e, se nasce, não cresce, com certeza, faltar-lhe-á criatividade, asas para o artista voar no mundo do imaginário. Há décadas, o cinema iraniano é prova disso; só se desenvolveu e se destacou, à medida em que foi libertando-se das amarras preconceituosas da religiosidade radical. É nesse sentido que pregam os púlpitos do farisaísmo, incentivando as autoridades que lhes são fiéis a darem fim à liberdade no cinema.
          O Manifesto do Fórum inicia fundamentando legalmente essa prerrogativa como direito dos que fazem a arte, por opção de vida, com as palavras da nossa Constituição: “É livre a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. Ainda continua a Nota do Fórum: “O inciso IX, do Artigo 5º da Constituição Cidadã de 1988 é cristalino, soberano e nos indica o caminho de uma sociedade plena de direitos em sua capacidade de pensar, criar e aprofundar os conhecimentos da ciência e da poética da vida” (…).
          O prodigioso filme Aruanda (1960), de Linduarte Noronha, reconhecido por Glauber Rocha como início do “cinema novo” brasileiro, historiando a cultura quilombola na Paraíba, leva-nos a refletir que podem faltar recursos financeiros para a produção, mas, jamais liberdade ou mesmo liberdade limitada, o que afetaria sua boa realização. Qualquer limite que se imponha à “liberdade de expressão” impede que ela aconteça na plenitude conceitual da sua existência. Graças a essa liberdade, películas de bons roteiros são realizáveis para serem desfrutadas pelo povo. Ao mesmo tempo, dá-se na pintura essa necessidade: o pintor deve ser livre para pintar suas ideias, suas formas e cores da sua escolha para suas imagens, seguindo a sua livre imaginação. Quiçá a Presidência da República, sendo sensível e ouvindo nossos “reclames”, como foi atenciosa aos reclames dos paraguaios para anular o acordo feito com a Presidência daquele país sobre a utilização da Usina Hidrelétrica de Taipu, reveja também estratégias e reformas que alquebram a Ancine. Não somos paraguaios, mas, brasileiros, de uma mesma nação, de uma mesma cultura, que amam o cinema.
         Tudo que aqui se diz e que se propaga é em razão de ser a arte cinematográfica uma completa manifestação cultural que engloba quase todas as artes e goza de grande intimidade junto à sociedade quanto à sua utilização no mercado industrial e tecnológico, sendo, por excelência, também um penetrante instrumento da educação. É seriamente tudo isso e não deixa de exercer o papel como um dos mais procurados meios de divertimento e de lazer, proporcionando-nos conhecimentos de natureza científica e filosófica. É ainda o cinema uma linguagem universal, embora o nosso país, pela sua grandeza, contenha um certo relativismo na cultura. Por isso, ele serve para reunir as mais diferentes regiões, estados e cidades numa só nação, de um só idioma, também de muitos e semelhantes sentimentos. O cinema, feito com liberdade, é um excelente veículo para a formação da identidade cultural brasileira.
         
 

Damião Ramos Cavalcanti