O FAVORITO DA MAMÃ
Muri, um rato pequenino, tinha uma mãe muito querida.
Ele também tinha irmãos e irmãs. Muitos irmãos e irmãs. E também tinha… um
papá.
O Muri nunca estava sozinho.
Às vezes, pensava: “Quem será o favorito da mamã?”
A favorita da mamã devia ser a irmãzinha bebé. Ela recebia sempre um bocadinho
de queijo a mais.
— Ela ainda tem de crescer muito — explicava a mamã.
O Muri tentou parecer tão pequeno e indefeso como
a sua irmãzinha.
Mas a mamã não ficou nada contente.
Só disse:
— Muri, para com esse disparate, por favor!
A irmã mais velha do Muri vivia longe. A mamã costumava enviar-lhe queijo e nozes.
O
Sempre que a mamã recebia uma carta dela, lia-a muitas vezes até ela ficar cheia de
manchas e dedadas gordurosas. Parecia não ter tempo para mais ninguém.
Por isso, o Muri decidiu ir embora também.
Calçou as botas e começou a andar.
Bateu com a porta, quando saiu.
Fez isso uma vez e depois tentou de novo.
— Mamã, vou embora! — gritou ele.
A mamã só suspirou e disse:
— Querido, por favor, para com esse entra-e-sai.
Um dia, o irmão mais velho do Muri estava doente.
A mamã cuidou dele e ficou junto dele o tempo todo.
“Ah, ah”, pensou o Muri. “É assim que passo a ser o favorito da mamã”.
— Mamã — disse ele. — Dói-me muito a barriga.
— Quando te dói muito a barriga, não deves comer mais nada — disse a mãe.
Oh, para o Muri só chá de ervas.
Coitadinho do Muri!
Alguns dias depois, a sua irmã mais nova foi a correr a chorar para a mamã.
Tinha perdido o seu lenço de cabeça preferido.
— Eu ajudo-te a procurar, querida, não te preocupes — disse a mamã. — Até
encontrarmos, põe esta flor atrás da orelha. Fica bonito.
De repente, o Muri gritou:
— Mamã, perdi o meu cachecol!
A mamã olhou para ele e sorriu maliciosamente.
— Perdeste o teu cachecol? — perguntou ela. — Então, o melhor é ires procurá-lo. De
certeza que vais encontrá-lo, querido.
Nessa mesma noite a mamã chamou o Muri:
— Vou dar um passeio. Queres vir?
O Muri ficou radiante.
Tinham acabado de começar, quando viram…
…UM GATO!
A mamã agarrou no Muri e fugiu à
velocidade de um raio.
Estavam a salvo.
A mamã sentou o Muri no seu colo e abraçou-o. Sussurrou-lhe
suavemente ao ouvido:
— Está tudo bem, querido, está tudo bem.
Depois, ficou tudo realmente bem, para todos.
A mamã era a melhor e o Muri percebeu que ela gostava de todos da mesma maneira.
–
Brigitte Sidjanski
O favorito da mamã
Porto, Ambar, 2008